A Costumização como um novo Luxo em Portugal
Neste primeiro Meet The Maker, o Fashion Makers reuniu Carla Costa, dir. de marketing da Topázio, Ricardo Conceição, dir. geral do Atelier Des Créateurs e Gonçalo Cruz, COO da My Swear, para discutir ‘A Costumização como um novo Luxo em Portugal.”
Acompanhada pelo pulsar das máquinas em pleno processo de produção, a conversa tem início nas instalações da fábrica da Topázio, em Gondomar. A jornalista Catarina Rito dá o mote.
O que distingue ‘costumização’ de ‘produção por medida’? O consumo de produtos de luxo está a aumentar em Portugal? Como é que o nosso mercado é percepcionado lá fora?, são os pontos a responder.
Os responsáveis pelas marcas de luxo, de diferentes conceitos e dimensões, partilharam as suas histórias estratégias e responderam às questões e curiosidades dos participantes, numa conversa intimista, fluída, e muito bem-disposta.
As opiniões confrontam-se e complementam-se. Incontestável é que, neste dia, a Topázio ganhou uma nova cor e uma nova vida. Gonçalo Cruz começa por explicar que a costumização possibilita uma variedade de pequenas alterações no produto final, como a cor ou o material. Já fazer um sapato ‘por medida’ pressupõe o desenho da planta do pé.
“Quando falamos de marcas de mass costumization, a noção de medida não existe”.
Posteriormente, acrescenta um novo ponto: a ‘personalização’. O COO da MY SWEAR, afirma que depois do cliente costumizar o seu produto, pode personaliza-lo com outros elementos pessoais como, por exemplo, uma assinatura.
Ricardo Conceição concorda que ‘por medida’ pressupõe uma “personalização total, até ao ínfimo detalhe”, tratando-se de um serviço “cujo preço não se discute”. Nestes casos, tudo é possível. Do mais pequeno pormenor, ao pedido mais excêntrico. Afinal, “medida é a busca pelo conforto e identidade”, acrescenta.
Na Topázio também existe a flexibilidade de costumizar, personalizar e produzir peças por medida. De acordo com Carla Costa, o mercado externo é o que mais procura a costumização. No nacional, é bastante usual personalizar as peças através da gravação da monografia ou do brasão da família.
Os oradores concordam: Tudo pode ser feito e alterado ao gosto do consumidor, desde que exista poder de compra. Assumimos, aqui, que o luxo se destina a um nicho de mercado. Mas nem sempre é assim.
“O cliente não é necessariamente um connaisseur, é alguém com uma necessidade de identidade, de conforto ou de pertença a uma tribo”,
diz Ricardo Conceição. “A costumização democratizou-se com as novas tecnologias”, defende.
Carla Costa observa que “o consumidor está muito mais exigente, quer exclusividade, quer sentir-se a participar no processo criativo”. Gonçalo Cruz concorda e reitera que “o facto de estarmos muito informados cria muita pressão no lado das marcas”, já que “o consumidor vê todas as alternativas antes de adquirir um produto”.
Para o COO da My Swear, enquanto que, “em Portugal sabemos que existe uma rede de pessoas que fazem x ou y”, em termos internacionais, “existe uma ‘fronteira psicológica’ que diz que para se ‘eu’ gastar mais de dois mil euros numa peça, ela tem que ser realmente especial”. O diretor geral do Atelier des Créateurs colmata: “Por vezes, basta ‘um toquezinho’ para uma peça se tornar realmente especial”.
Catarina Rito lança uma pergunta provocatória: Com o aparecimento e flexibilização de serviços de costumização, personalização e produção por medida, o consumidor continua a preferir investir em marcas? Ou prefere adquirir produtos exclusivos? As opiniões diferem.
Enquanto que Ricardo Conceição afirma que “um fato produzido no Atelier des Créateurs, tem um nível superior comparado com o produto de marca do mesmo valor”, Gonçalo Cruz considera que “as pessoas continuam a preferir ter uma assinatura e costumiza-la do que fazer um produto à medida”.
Contudo, a personalização exagerada pode trazer efeitos colaterais para a marca. Ao permitir demasiadas alterações ao produto original, a marca corre o risco de diluir a sua assinatura e perder a identidade no mercado, diz Gonçalo.
Carla Costa admite que, no caso da Topázio, há espaço para as duas realidades. No entanto, a diretora de marketing, partilha que só mostra o showroom da marca centenária de pratas no final de uma visita às várias etapas do processo de fabrico, “porque só depois de ver a produção é que o cliente valoriza realmente a peça”.
Portugal é conhecido por produzir pequenas séries e de alta qualidade, sendo cada vez mais procurado para produzir marcas de luxo internacionais.
“A pressão do consumidor está a exigir às marcas séries mais pequenas e uma industria com capacidade de reação”, avança Gonçalo Cruz. É “a flexibilidade do profissional português aliada ao know how da nossa industria que torna o nosso mercado único”, afirma Ricardo.
“Temos que apostar nas nossas competências e valorizar o nosso produto, em vez de continuar a alimentar a guerra dos preços”, aconselha.
Depois de uma partilha intensa e de pura reflexão a conversa continuou à mesa, cuidadosamente decorada pelos “Pratos em Volta”. Entre ‘tlins tlins’ e ‘pucs pucs’, os participantes deliciavam-se com o almoço, preparado pela chefe Filipa Cardoso do projeto Diospiro, bem no coração da fábrica. A troca de saberes prolongou-se com uma visita guiada à fábrica Topázio e aos seus trabalhadores.
O primeiro Meet the Maker é o começo de inúmeros e exclusivos encontros com os ‘Makers’ da cidade.